CLARICE LISPECTOR NO MODERNISMO BRASILEIRO

                    RESUMO:
Neste trabalho efetua-se a pesquisa e análise da autora Clarice Lispector dentro do Modernismo Brasileiro, visto que a autora encaixa-se na terceira geração moderna (1945 – 1978), onde o país mostrava um cenário sócio-político de transformações, o fim da “Era Vargas”, ascensão e queda da ditadura militar e rodeada de acontecimento vindos da Guerra Fria, esta geração ficou marcada pelo regionalismo utilizado pelos autores, o jagunço brasileiro era analisado profundamente, como nas obras do autor Guimarães Rosa.                                                                              Os principais resultados deste projeto é destacar quem foi Clarice Lispector dentro da terceira geração moderna e o que a autora queria desvendar em suas obras explorando o interior do ser humano, seus conflitos e dúvidas, reflexos da mente, onde o principal objetivo era a sondagem psicológica de cada personagem indo além do regionalismo, a autora deixou claro que “...Enquanto houvessem dúvidas, não deixaria de escrever... Pensar é um ato, agir é um fato...” (Clarice Lispector).
      INTRODUÇÃO:
     A proposta deste projeto tem por finalidade analisar quem foi Clarice Lispector dentro da terceira geração moderna da literatura brasileira, a autora está localizada na terceira geração moderna , que caracteriza-se por uma intensificação na questão modernista que era a busca de uma nova linguagem, o Modernismo parece secundarizar os fatos e priorizar as repercussões dos fatos nos indivíduos e aqui no Brasil, Clarice Lispector, destaca-se como escritora, suas obras e seus fluxos de consciência, isso se torna um momento privilegiado de revelação quando tudo acontece e muda completamente o “eu” da personagem, que triunfa sobre um cotidiano comum, que é o grande tema da autora.
Clarice Lispector com seu toque de renovação e intensificação, tudo isso destaca com uma linguagem original que parece se realizar por meio de uma potencialização das virtualidades do idioma, o que a situa ainda mais dentro dos modelos do
Modernismo.                                                                                       As historias de Clarice não trazem grandes acontecimentos, ao contrário, seus personagens são seres imóveis, retidos em impasses que ultrapassam o cotidiano,  são seres retidos para quem as condições não emergem no mundo, mas da própria palavra. Seres adoentados de palavras e que nelas procuram a cura. Por esta razão, Clarice é a escritora do Eu em pedaços, de face explodida, o que caracteriza o homem moderno. Desde sua estréia Clarice já revelava as marcas de toda a sua criação com a presença de metáfora e do fluxo da consciência, a ruptura com o enredo da época, suas personagens sempre mergulhadas em profunda introspecção, pois são castradas para a vida real. Tudo isso encontra harmonia numa linguagem bem trabalhada, sua ficção concentra-se, sobretudo, nas regiões mais profundas do inconsciente, investigando, assim, os desejos ignoradas  pelas próprias personagens. O espaço exterior, em suas narrativas, tem a importância de resumir à mente das personagens, assim, o objetivo maior do texto é o momento dos grandes acontecimentos, onde as personagens descobrem que vivem num mundo absurdo, o que provoca nestes um desequilíbrio interior. Ao escrever Clarice vai desvendando a mente de suas personagens e mostrando ao leitor as características psicológicas daquele ser humano inventado e desvendado por ela, Lispector invade essa intimidade e nos mostra naquele que era um ser que não possuía características interessantes para aguçar nossa curiosidade e a partir de sua simplicidade de pensar e agir nos faz querer saber destes que não conhecem nem a si próprios. Será que a autora está relatando algo próprio, experiências vividas por ela desde sua infância? A chegada ao Brasil e a tentativa de descobrir seu “Eu” na literatura? Sua personagem Macabéa é uma mulher comum, para quem ninguém olharia, ou melhor, a quem qualquer um desprezaria: corpo franzino, doente, feia, maus hábitos de higiene, seu desejo maior era ser igual a Marilyn Monroe, símbolo sexual da época. O narrador da obra, criado por Clarice era um homem, Rodrigo S. M. e nele existia a necessidade constante de descobrir-se o princípio, mas o homem, limitado que é, não conhece a resposta a todas as perguntas. A personagem narradora não é diferente dos outros homens, porém, mesmo sem saber tais respostas, de uma coisa ela tem certeza e, por isso, ela afirma: “Tudo no mundo começou com um sim.” (Rodrigo S. M.) É preciso dizer sim para que algo comece, por isso, ela diz “sim” a Macabéa. Alguém que forçou seu nascimento, sua saída de dentro do narrador, tornando-se a nordestina, personagem protagonista de seu romance.                                                                                                                                                                                                                Esta pesquisa tem por objetivo analisar e expor Clarice Lispector na terceira geração moderna e suas obras, em especial “A Hora da Estrela”, mostrando o interior humano de um ser desconhecido descrito pela autora para analisar que sabe a ela mesma, é o que analisamos no seguinte trecho da obra:
[...]Escrevo neste instante com prévio pudor por vos estar invadindo com tal narrativa tão exterior e explícita. De onde no entanto até sangue arfante de tão vivo de vida poderá quem sabe escorrer e coagular em cubos de geléia trêmula. Será essa história um dia o meu coágulo? Que sei eu. Se há veracidade nela - e é claro que a história é verdadeira embora inventada - que cada um reconheça em si mesmo porque todos nós somos um e quem não tem pobreza de dinheiro tem pobreza de espíirito ou saudade por lhe faltar coisa mais preciosa do que ouro - existe a quem falte o delicado essencial.
 Proponho-me a que não seja complexo o que escreverei, embora seja obrigado a usar as palavras que vos sustentam. A história - determino com falso livre arbítrio - vai ter uns sete personagens e eu sou um dos mais importantes deles, é claro. Eu, Rodrigo S. M. Relato antigo, este, pois não quero ser modernoso e inventar modismos à guisa de originalidade. Assim é que experimentarei contra os meus hábitos uma história com começo, meio e ‘gran finale’ seguido de silêncio e chuva caindo.[...]  (LISPECTOR, Clarice. A Hora da Estrela. Rio de Janeiro : Rocco, 1998.)
           Clarice Lispector que no trecho está transfigurada no narrador Rodrigo S. M. , em contrapartida, não abre mão de suas características mais marcantes, ou seja, a reflexão, o elemento acima do enredo, que ela expõe em, “...silêncio e a chuva caindo...”, que marcarão a personagem protagonista, o narrador e a própria autora, que é o centro de minha pesquisa.

        JUSTIFICATIVA:
         Analisando Clarice Lispector e suas obras vemos que dificilmente têm um enredo com um começo, meio e fim, como os narrativos tradicionais. A própria autora nunca soube explicar os seus processos de criação. “É um mistério”, dizia
ela. “Quando penso numa história, eu só tenho uma vaga visão do conjunto, mas isso é coisa de momento, que depois se perde. Se
houvesse premeditação, eu me desinteressaria pelo trabalho.” Mais do que histórias, os seus livros contêm impressões. Por isso, consciente de sua condição como escritora e vendo que ela invade o interior das personagens, como se ela própria vivesse aquela história, analisamos isso claramente em seu penúltimo romance e último livro publicado em vida, “ A Hora da Estrela”. Clarice analisa Macabéa profundamente, mostrando seus medos e suas idéias. Invadindo este interior, a autora cria um narrador, Rodrigo S. M., um homem que analisa e encontra o seu “Eu” na personagem, descrevendo-se em suas intimidades e relatando a sua única e verdadeira hora da estrela, a hora de sua morte. A vida da personagem é toda rodeada de acontecimentos que eram vivenciados por recém-chegados do Nordeste ao Rio de janeiro, mostra a miséria de oportunidades e esperança que estas pessoas viviam ali na “Cidade Maravilhosa”. Macabéa é um ser sem graça, sem objetivos, sem idéias sobre seu futuro, alguém que não tinha encontrado ainda sua hora da estrela, o narrador criado por Clarice, Rodrigo S. M., que identifica-se somente assim, encontra em Macabéa a pessoa dele e nela encontra a sua hora da estrela.
[...] dormia de combinação de brim, com manchas bastante suspeitas de sangue pálido (...) Dormia de boca aberta por causa do nariz entupido.
Ela nascera com maus antecedentes e agora parecia uma filha de não-sei-o-quê com ar de se desculpar por ocupar espaço. No espelho distraidamente examinou as manchas do rosto. Em Alagoas chamavam-se ‘panos’, diziam que vinham do fígado. Disfarçava os panos com grossa camada de pó branco e se ficava meio caiada era melhor que o pardacento.
Ela toda era um pouco encardida pois raramente se lavava. De dia usava saia e blusa, de noite dormia de combinação. Uma colega de quarto não sabia como avisar-lhe que seu cheiro era murrinhento. E como não sabia, ficou por isso mesmo, pois tinha medo de ofendê-la. Nada nela era iridescente, embora a pele do rosto entre as manchas tivesse um leve brilho de opala. Mas não importava. Ninguém olhava para ela na rua, ela era café frio.
Assoava o nariz na barra da combinação. Não tinha aquela coisa delicada que se chama encanto. Só eu a vejo encantadora. Só eu, seu autor, a amo. Sofro por ela.[...] (LISPECTOR, Clarice. A Hora da Estrela. Rio de Janeiro : Rocco, 1998.
      Analisamos assim, que Clarice também se encontra em Macabéa, que a autora gostaria de ser a personagem em sua vida real, alguém que não precisasse ser explicado para existir, alguém que somente existisse, Lispector é apresentada nesta personagem.
[...] a autora não abandonou seus questionamentos  metafísicos, mesmo recorrendo com freqüência ao cotidiano ao traçar o perfil de Macabéa. Clarice está toda em A Hora da Estrela , ao cria Macabéa ela descobriu uma maneira de significar se precisar se dar conta do mundo e das coisas que pertencem a ele. (JESUS, Valentina 2008)

      Como na citação da autora Valentina, Clarice se encontra em Macabéa para viver no mundo sem precisar explicar as coisas existentes nele, assim como sua personagem vivia. Clarice faz em Rodrigo S. M. o narrador-personagem desta história  confissões sobre sua vida e forma de ver o mundo analisando o outro.
[...] autora e embora não caiba falar aqui em novela autobiográfica, também não serão desconsiderados
os lances de biografia. Estes podem constituir resultado das experiências dela, sobretudo em sua
vivência de nordeste, vindo a fomentar a sua criação. Se a confissão é uma marca registrada em
Clarice, quase sempre mergulhada no próprio Eu, na obra em questão, ela, metamorfoseada em narrador, vem fazer confissões poéticas sobre o Outro. (MEDEIROS, Ligia 2008)

     Vemos em A Hora da Estrela, Rodrigo S. M., Macabéa e Clarice, três pessoas que vivenciam ou gostariam de vivenciar a vida de uma mesma maneira, mas apenas Macabéa tem essa oportunidade, quando vai a uma cartomante tentar encontrar a sua hora da estrela, e recebe a resposta que está em um estrangeiro louro e rico, a personagem sai dali saltitante e feliz, pois acreditava que seu futuro mudaria, e realmente ela encontrara a sua esperada hora da estrela.

[...]Se iria morrer, na morte passava de virgem a mulher. Não, não era morte pois não a quero para a moça: só um atropelamento que não significava sequer um desastre. Seu esforço de viver parecia uma coisa que se nunca experimentara, virgem que era , ao menos intuíra, pois só agora entendia que mulher nasce mulher desde o primeiro vagido. O destino de uma mulher é ser mulher. Intuíra o instante quase dolorido e esfuziante do desmaio do amor. Sim, doloroso reflorescimento tão difícil que ela empregava nele o corpo e a outra coisa que vós chamais de alma. (...)
  Nesta hora exata, Macabéa sente um fundo enjôo de estômago e quase vomitou, queria vomitar o que não é corpo, vomitar algo luminoso. Estrela de mil pontas.[...] (LISPECTOR, Clarice. A Hora da Estrela. Rio de Janeiro : Rocco, 1998.
Neste momento Rodrigo S. M. e Clarice Lispector encontram junto com Macabéa a hora mais fantástica da vida humana, o momento em que todos se encontram e desvendam suas dúvidas sobre a vida, o que somos e por que estamos aqui.

        OBJETIVOS:

     Os objetivos desta pesquisa é analisar de forma concisa Clarice Lispector na terceira geração moderna da literatura brasileira, sua vida e maneira de escrever relatando o seu “Eu”encontrado em suas obras, a autora escreveu muitos contos com estilo inusitado, textos profundos, de difícil entendimento, pois se desprende da narrativa referencial, ligada aos fatos e acontecimentos e volta-se para uma narrativa interiorizada, existencialista, centrada num momento de vivência interior das personagens, a maioria das personagens de Clarice Lispector são mulheres, fazendo com que surjam  questionamentos a respeito do papel da mulher dentro da sociedade, tornando-se assim uma obra reflexiva, gerando uma tendência à introspecção, ao amor, ao casamento, a relação homem e mulher são questões tomadas pela autora que levam o leitor a refletir e pensar a respeito.
- Mostrar o estilo Clariceano.
- A inovação da sua linguagem na literatura brasileira.
- Conhecer Clarice Lispector em Macabéa.
- Desvendar as análises psicológicas feitas nas personagens por Clarice, que desvendava a si própria.
- Como única mulher em destaque na terceira geração moderna da literatura brasileira, mostrar seu diferencial.
     Quero desta maneira esclarecer e dar ao leitor a possibilidade de ler, entender e divertir-se nas obras de Clarice Lispector e mostrar qual sua importância na terceira geração moderna da literatura brasileira, deixando assim satisfeitos os leitores e interpretadas claramente sua obras, vendo que a autora tem desejo de uma linguagem despojada e simples, assim ela descreve suas personagens, em destaque Macabéa, que é uma pessoa simples, Lispector esbanja dessa linguagem, deixando-a bastante clara para seus admiradores, e como a própria autora citava, Renda-se, como eu me rendi. Mergulhe no que você não conhece como eu mergulhei. Não se preocupe em entender, viver ultrapassa qualquer entendimento.”(Clarice Lispector).
  METODOLOGIA
     Este projeto será desenvolvido através de pesquisas em obras e artigos científicos de outros autores baseados na vida e obra de Clarice Lispector. O foco de pesquisa no tema abordado é a leitura de obras e de biografias da autora, tentando encontrar o principal objetivo da pesquisa que é desvendar Clarice Lispector em suas obras através de sua trajetória em vida. A pesquisa terá duração de vinte e quatro meses (dois anos), assim nos primeiros doze meses (um ano) a pesquisa ficará focada na leitura e análise das obras da autora, mas com ênfase em “A Hora da Estrela”, nos próximos doze meses (um ano) a pesquisa será feita baseando-se na vida da autora, acontecimentos marcantes e de destaque. Nestes últimos doze meses haverá o fechamento da pesquisa, construção da monografia, escrita dos textos, revisão dos textos e conclusão da pesquisa, para finalmente apresentar o artigo e defender a tese.


 REFERÊNCIAS:

GUIDIM, Márcia Lígia. Roteiro de Leitura: A Hora da Estrela de Clarice Lispector. São Paulo: Ática, 1998.

LISPECTOR, Clarice. A Hora da Estrela. Rio de Janeiro : Rocco, 1998.


MEDEIROS, Ligia. Macabéa: um corpo como metáfora de uma existência que dói em Clarice Lispector. Florianópolis, 2008.

JESUS, Valentina. Clarice Lispector: Intensa e apaixonada. São Paulo, 2008.

SUASSUNA, Flávia. Clarice Lispector. Rio de Janeiro, 2006.

V. Catiele, Clarice Lispector como grande participadora do modernismo brasileiro. Maringá, 2007.

CAMPELLO, Eliane. Clarice sem Fronteiras. Rio Grande do Sul, 2005.
ALMEIDA, Joel. Clarice a Flor da Pele. Campinas, 2005.

LUZ, Archilles. A Epifania em Clarice Lispector. Permanbuco, 2010.

SOUZA, Natália. O Estilo de Clarice Lispector como um Divisor de Águas na Literatura Brasileira. Cabo de Santo Agostinho, 2010.

LAURIA, Márcio. Clarice Lispector uma Cosmovisão. Rio de janeiro, 1973.