ANTOLOGIA COMPARADA E COMENTADA

1. Realismo x Romantismo

            A narrativa romântica é caracterizada por ter o “eu lírico ou poético” evidenciado, subjetivismo exposto, onde o autor, que na maioria das vezes também é personagem (Foco narrativo e 1ª pessoa), envolve o leitor trazendo-o par ao seu mundo e não dando importância para o tempo, sendo ele cronológico ou psicológico. Suas personagens femininas, sempre mostradas, frágeis, sensíveis, belas, transformadas em um ser especial.
            O realismo é uma escola literária, onde os pensamentos predominantes eram realidade, razão e ciência, deixando de lado o sentimentalismo e caracterizando suas personagens com problemas e limitações, evidenciando o ser humano, revelando a falsidade, o egoísmo a impotência humana diante dos poderosos, tudo muito objetivo, contrariando as narrativas românticas

1.1 Capitu (Dom Casmurro):

            A personagem Capitu, apesar de ser uma moça humilde e pobre demonstra bastante esperteza, considerada até mesmo como volúvel e sensual, inteligente, extrovertida, criativa e previdente. É apresentada fisicamente como uma moça alta, forte e cheia, apertada em um vestido de chita, meio desbotado, seus cabelos eram negros grossos e compridos até a cintura, seus olhos negros e misteriosos, nariz reto e comprido, a boca fina e o queixo largo. Seu lado psicológico nos remete a uma garota complexa e dissimulada, é apresentada como fria e com ar manipulador,  conseguindo mudar seu comportamento com grande facilidade, sempre muito observadora, aprende facilmente tudo o que lhe é proposto, determinada, leva seus objetivos até o fim. Assim é narrada Capitu pelo autor, vemos em um momento da narrativa em que a personagem explode ofendendo a mãe de Bento, por ela ser a responsável pela decisão de torná-lo padre, parecendo disposta a dizer tudo a todos, cerrando os dentes e abanando a cabeça, mostrando um comportamento de ira, quando o resultado de uma decisão não é feita a seu gosto.

1.2 Luisa (Primo Basílio):

            Luisa, loura, perfil bonito, com uma pele branca, uma cabeça pequenina, frágil de físico e caráter, teve uma desleixada educação familiar e colegial, romântica, sonhadora e de temperamento fraco, viveu um adultério acreditando ser um grande amor, apresenta sentimentos de medo ser for descoberta e perder o status adquirido com o casamento. Assim é mostrada Luisa pelo autor, sempre enfatizando características românticas dentro da narrativa.
1.3 Luisa e Capitu, diferenças e semelhanças:
            Capitu e Luisa se relacionam quando observamos que possa existir em “Dom Casmurro” um secreto amor como o da personagem da obra de Eça de Queiroz. Outra semelhança encontrada é em manter a aparência de mulher respeitosa diante a sociedade. Cada personagem traz aspectos sociais muito distintos, Capitu vinha de uma família menos favorecida que se mantinha agregada à família de Bentinho, sempre mantendo o marido a fazer suas vontades, ao contrário de Luisa, mulher com boas posses financeiras vindas de um casamento com sorte, mas submissa ao marido, vivendo sua felicidade sempre as escondias.
            Romantismo e Realismo se encontram em alguns momentos, as personagens possuem características eventualmente semelhantes, quanto a narração de seus aspectos físicos e psicológicos, mulheres belas e com seus sentimentos expostos, de maneira a deixar o leitor envolvido e a tirar uma conclusão pessoal da história a ser revelada.

2. Modernismo Brasileiro x Romantismo

2.1 Canção do Exílio (Gonçalves Dias)

            O autor Gonçalves Dias era poeta e teatrólogo e pertencia a escola Romântica, produziu a obra “Canção do Exílio”, onde relatava seu sentimento e encantos por sua terra natal, Maranhão – Brasil, no momento de sua produção o autor estava em Coimbra – Portugal, daí a colocação da palavra exílio no título da obra, estava fora do seu país e escreveu relatando suas saudades e vontades a realizar em sua volta ao país natal, assim, caracterizando completamente sua obra como romântica, subjetivismo e sentimentalismo exposto claramente.
            Analisando a obra semanticamente, notamos a utilização do advérbio “Cá”, que representam o local onde o autor está ao escrever sua obra (Coimbra – Portugal) e “Lá”, representando sua terra natal. È uma obra constituída de palavras que se repetem várias vezes servindo para caracterizar a cidade do Maranhão, como, “Palmeiras”, canta o “Sabiá”, aves que gorjeiam, entre outras.
            Fazendo outra análise, agora formal ou estruturalmente, a obra é dividida em três quartetos e dois sextetos, suas rimas são ricas, como exemplo, sabiá e lá, são palavras morfologicamente classificadas diferente, Sabiá é um substantivo e lá um advérbio, tornado a rima com uma estrutura rica, pois palavras de classes diferentes rimando são classificadas desta forma.
            A obra tem como tema central, o exílio, que tem o significado, sair de sua terra natal livre ou forçadamente, para viver em outro ambiente, no caso do autor, foi uma escolha livre, ao sair do Brasil foi a Coimbra para cursar a faculdade de direito e lá teve a inspiração para a construção do poema.

2.2 Canção do Exílio (Murilo Mendes)

            Tomando o assunto do tema e título, temos o modernismo, fase que foi dividida em três gerações onde destacaram diversos autores e pintores, esta escola pregava algo mais radical com referência ao país de origem, neste caso Brasil. Será tratado especialmente o autor Murilo Mendes, este pertence a escola modernista brasileira, escreveu uma versão “moderna” de “Canção do Exílio”, o autor retrata o mesmo tema exílio, pois está vivendo fora de seus país natal, se estabelecendo em Roma para lecionar Literatura brasileira.
            É claramente notado que em sua obra, não é encontrado, uma semântica, estrutura ou forma seguindo corretamente uma norma, característica modernista. Vemos que seu objetivo central é fazer uma crítica humorística a seu país, relatando o militarismo a utilização da mercadoria estrangeira e os altos valores de revenda dos produtos brasileiros para o próprio povo, a situação precária de vida do cidadão trabalhador brasileiro e da alta sociedade, deixa claramente exposto que apesar de viver em sua terra natal fica como um exilado, onde os estrangeiros possuem mais regalias do que o povo morador do país.



Canção do Exílio
Minha terra tem macieiras da Califórnia
onde cantam  gaturamos de Veneza.
Os poetas da minha terra
são pretos que vivem em torres de ametista,
os sargentos do exército são monistas, cubistas,
os filósofos são polacos vendendo a prestações.
A gente não pode dormir
com os oradores e os pernilongos.
Os sururus em família têm por testemunha a Gioconda.
Eu morro sufocado
em terra estrangeira.
Nossas flores são mais bonitas
nossas frutas mais gostosas
mas custam cem mil réis a dúzia.
Ai quem me dera chupar uma carambola de verdade
e ouvir um sabiá com certidão de idade!
Murilo Mendes

2.3 Semelhanças e diferenças entre as versões de “Canção do Exílio”
            É visto que na versão romântica de “Canção do Exílio” escrita pelo autor Gonçalves Dias é expressa a beleza e características positivas de sua terra natal, o autor mostra saudades e vontade de estar novamente naquele local, a fala é totalmente subjetiva, íntima e sentimentalista.         
            Já a versão de “Canção do Exílio” de Murilo Mendes, é expressa os defeitos e dificuldades enfrentadas pelo povo nascido e morador desta terra natal, o autor mostra desgosto, indiferença, injustiça e exploração do povo brasileiro em relação aos estrangeiros, deixando claro que o país movimenta-se em torno do dinheiro e bens materiais.
            Assim, os dois autores relatam em suas obras sobre a terra natal, Brasil, mas com versões e características diferentes, deixando claro que cada autor representa em suas obras, cada escola literária e suas características fundamentais, seguindo estrutura e semântica, igualando-se apenas no tema escolhido.
3. Conclusão
           
            Ao analisar todas as obras, autores e suas escolas lietárias pertencentes, percebe-se a semelhança de pensamentos e colocação de características, apesar de apresentarem temas diferentes, cada autor relata em sua obra um pouco de sua vida, cotidiano, sofrimentos, alegrias e principalemte suas revoltas e pensamentos sobre determinados assuntos.
            É notada a semelhança e similariedade nas obras  “Dom Casmurro” (Machado de Assis) e “O Primo Basílio” (Eça de Queiróz), nas duas o tema é o adultério a mulher é caracterizada com sua beleza física e psicológica, tem defeitos e qualidades e o que isso pode causar em um relacionamento, retrata o homem como um ser dominador e dominante diante de seus sentimentos.
Em “Vidas Secas” de Graciliano Ramos e “As vinhas da ira” de John Steibeck o tema abordado é o regionalismo, dificuldades apresentadas dentro de cada país e região determinada pelo autor, a obra brasileira retrata a seca do nordeste e a obra norte-americana apresenta o problema do sistema financeiro e empregatício americano.
Nas versões de “Canções do exílio” destacam-se o tema regionalista e pátrio, onde cada autor apresenta características de suas terras natais, Brasil. Gonçalves Dias trata as paisagens, animais e momentos tranqüilos e felizes que tinha saudades de passar novamente naquele lugar, já Murilo Mendes, retrata o território brasileiro e suas dificuldades e desigualdades enfrentadas pelo povo nascido e morador desta terra.
            Assim analisamos temas escritos há muito tempo, mas retratando questões atuais, percebemos que a variação temática apesar de serem de obras já antigas e comparadas com outras modernas, os assuntos retratados nos remetem a mesma idéia, levar o leitor a analisar as qualidades positiva e negativas identificando o tempo e época da obra escrita, assim as temáticas não mudam, semântica, estrutura e forma podem caminhar com a evolução das escolas literárias, mas os temas relacionados a vida são sempre os mesmos.



Referências Bibliográficas

 QUEIROZ, Eça de. O primo Basílio. Editora Tecnoprint S. A. Coleção Prestígio.

ASSIS, Machado de. Dom casmurro. 18º edição. Editora Ática, série Bom livro, 1987.



http://www.ufrgs.br/proin/versao_1/exilio/index01.html